domingo, 20 de março de 2016

Memória Descritiva - 1ª Proposta

Os elementos visuais constituem a substância básica daquilo que nós vemos, e a sua porção é reduzida a: linha, ponto, forma, direção, tom, cor, textura, dimensão, escala e o movimento. Os elementos básicos que compõem tudo o que de mais complexo existe à nossa volta.
“Sempre que alguma coisa é projetada e feita, esboçada e pintada, desenhada, rabiscada, construída, esculpida ou gesticulada, a substância visual da obra é composta a partir de uma lista básica de elementos.” (DONDIS, A. D. / La sintaxis de la imagem, Introducción al alfabeto visual / Ed. GG Diseño, Barcelona).
Através de vários pontos de vista podemos analisar qualquer obra visual, como decompô-la nos seus elementos constitutivos, para melhor compreendermos o todo. Ora, com as noções aprendidas nas aulas, partimos à descoberta dos elementos visuais que nos rodeiam. “Dia de Folga” de Ana Mora foi a música escolhida para a elaboração da nossa primeira proposta. Música que nos transmite a ideia de que, de facto, a nossa rotina é pautada por muita agitação e azáfama, e desta forma, retrata também a casa típica portuguesa. Privilegiando os mais diversos elementos da comunicação visual, como é possível observar na composição final, tínhamos noção que a perceção do conteúdo e da forma ocorre pelo ser humano de forma simultânea e assim, se queríamos privilegiar a existência dos elementos que constituem a nossa composição, teríamos também de utilizar técnicas que nos permitissem transmitir a mensagem que pretendemos sem diminuir o papel dos elementos e sem perder a conexão dos mesmos como um todo.
Por um lado, é necessário começar por analisar a utilização, nesta proposta, dos elementos básicos da comunicação visual. Na nossa composição do “contorno quadrado” podemos observar que não é possível ver ou sentir um ponto, pois trata-se de uma “posição sem área”. No entanto, verifica-se que a linha está presente e pode ser entendida como um número de pontos adjacentes uns aos outros. Esta também é não é estática, e tem um propósito e uma direção. 
No que diz respeito à forma, as formas básicas utilizadas, (como é o caso das janelas do edifício, a porta de entrada e o próprio prédio em si) são simples, fundamentais e que podem ser facilmente descritas e construídas. Relativamente ao tom, é de realçar que vemos graças à presença ou ausência relativa de luz. A luz envolve as coisas e incide sobre objetos que têm, eles próprios, claridade ou obscuridade relativa. Neste caso em concreto, reparamos que os vários azulejos que constituem o padrão de fundo do edifício apresentam vários tons e apresentam eles próprios uma claridade.  A textura é, de facto, uma estrutura que pode ser vista e/ou sentida. Na composição do “contorno quadrado” e do “contorno do círculo”, é percetível o modo como a textura do fundo não apresenta qualidades táteis, mas apenas óticas. Ainda assim, tentamos registar, através de fotografia, o máximo de azulejos possíveis com o objetivo de capturar diferentes modelos, e que se aproximasse realmente do estilo de uma casa típica portuguesa.
Atentando no elemento básico da comunicação visual, a direção, é exequível afirmar que a direção de um movimento pode ser definida pela linha que leva do ponto inicial do movimento ao seu ponto final presumido. Consegue-se comprovar esta última afirmação com a direção que observamos nas escadas que percorre as duas janelas do meio, ou seja, esta indicação tem uma forte interpretação e é um instrumento fundamental para a criação de uma mensagem visual que, neste caso, pretende mostrar uma sensação de movimento no prédio. Por último, a escala pode ser estabelecida não só através do tamanho relativo das indicações visuais, mas também através das relações com o campo ou com o ambiente. No estabelecimento da escala, a condição relevante é a medida do próprio homem. Na composição, podemos conferir que estamos perante uma escala entre as janelas e o próprio edifício, assim como o homem e o cão que se encontram no exterior. 
Por outro lado, é possível verificar que na composição estamos perante várias técnicas de comunicação utilizadas com o propósito de formar um conjunto. “As técnicas visuais oferecem ao designer uma grande variedade de meios para a expressão visual do conteúdo.” (DONDIS, A. D. / La sintaxis de la imagem, Introducción al alfabeto visual / Ed. GG Diseño, Barcelona). No nosso ponto de vista, existe uma espécie de equilíbrio dado pela forma como se separam as partes que constituem a mensagem, equilíbrio esse transparecido também pela utilização de formas mais geométricas, como é visível no caso das várias janelas e das personagens que se encontram nelas, assim como no próprio edifício.  Consideramos ainda que subsista uma simetria clara observável também nas janelas, visto que para cada unidade central, esta é rigorosamente repetida do outro lado. Acreditamos que existe regularidade, complexidade e uma grande riqueza visual (profusão), muita ornamentação conferida pelo misto de elementos e a forma como estão desenhados e a irreverência que com que se manifestam.  Na composição do “contorno quadrado”, a técnica da unidade resulta de uma harmonia dos vários elementos numa totalidade que se percebe visualmente.  A conjugação dos vários elementos concilia-se de um modo tão perfeito que passa a ideia de ser uma coisa única. Por exemplo, o uso das várias janelas, das personagens (casa de namorados e gato) e dos diversos objetos típicos de uma casa portuguesa passam uma noção, ao observador, de harmonia em conjunto com o edifício construindo uma mensagem visual de equilíbrio entre estes elementos todos.
A presença da técnica do exagero (conceito idêntico à profusão), tem como objetivo principal ampliar a expressividade da mensagem visual que se quer transpor, como é evidente no uso dos múltiplos azulejos. No entanto, como não pretendíamos que a nossa mensagem visual fugisse a toda obviedade e firmeza do propósito, acabamos por servirmo-nos da técnica ousadia para que tudo fosse óbvio e para que obtivéssemos a máximo visibilidade no nosso trabalho. Além disso, tal como foi referido anteriormente, através do equilíbrio, a representação da maioria dos elementos apresenta-se estática e um efeito de repouso e tranquilidade (uso da técnica da passividade).
Em contrapartida, como não era o nosso propósito realçar alguma coisa contra um fundo em que prevalece a uniformidade, a neutralidade será a técnica que melhor espelha as duas composições finais. Ao longo das diversas janelas, é nos revelado o que existe além do vidro e, por isso, é através da transparência que estes detalhes visuais nos mostram algo que se situa dentro de cada “casa”.
Porém, na porta domina a opacidade, pois oculta-se o que se encontra por trás dela. Pensamos, também, desde o início da concretização desta proposta que pretendíamos ser o mais realistas possível, ou seja, reproduzir o real que a letra da música nos oferece, e verificamos que era partir do plano que iriamos eliminar qualquer aparência de dimensão e necessitávamos de descartar qualquer perspetiva na nossa composição.
As janelas com diferentes pessoas e objetos exprimem a interação dos estímulos visuais (justaposição), e não pretendem funcionar como um tema isolado e independente.  Nas composições finais, não existe nenhuma apresentação acidental dos elementos nem da informação visual, logo, tudo se estabelece numa ordem lógica (sequencialidade). Por fim, o efeito final é fácil de compreensão e está presente uma clareza do estado físico (agudeza).

Pelo exposto, podemos concluir que, de facto, uma imagem pode ser um conjunto de elementos básicos de comunicação visual e vale muito mais do que mil palavras. Conhecer essas mesmas imagens que nos rodeiam no nosso dia a dia mostra que podemos alargar a possibilidade de contacto com a realidade. “Conhecer comunicação visual é como aprender uma língua, língua feita só de imagens, mas imagens que têm o mesmo significado para as pessoas de todas as nações, portanto de todas as línguas.” (MUNARI, Bruno / Design e Comunicacao Visual / Ed. 70, Lisboa, 1991).

Sem comentários:

Enviar um comentário