Os elementos
visuais constituem a substância básica daquilo que nós vemos, e a sua porção é
reduzida a: linha, ponto, forma, direção, tom, cor, textura, dimensão, escala e
o movimento. Os elementos básicos que compõem tudo o que de mais complexo
existe à nossa volta.
“Sempre que alguma coisa é
projetada e feita, esboçada e pintada, desenhada, rabiscada, construída,
esculpida ou gesticulada, a substância visual da obra é composta a partir de
uma lista básica de elementos.” (DONDIS, A. D. / La sintaxis de la imagem,
Introducción al alfabeto visual / Ed. GG Diseño, Barcelona).
Através de
vários pontos de vista podemos analisar qualquer obra visual, como decompô-la
nos seus elementos constitutivos, para melhor compreendermos o todo. Ora, com
as noções aprendidas nas aulas, partimos à descoberta dos elementos visuais que
nos rodeiam. “Dia de Folga” de Ana Mora foi a música escolhida para a
elaboração da nossa primeira proposta. Música que nos transmite a ideia de que,
de facto, a nossa rotina é pautada por muita agitação e azáfama, e desta forma,
retrata também a casa típica portuguesa. Privilegiando os mais diversos
elementos da comunicação visual, como é possível observar na composição final,
tínhamos noção que a perceção do conteúdo e da forma ocorre pelo ser humano de
forma simultânea e assim, se queríamos privilegiar a existência dos elementos
que constituem a nossa composição, teríamos também de utilizar técnicas que nos
permitissem transmitir a mensagem que pretendemos sem diminuir o papel dos
elementos e sem perder a conexão dos mesmos como um todo.
Por um lado, é
necessário começar por analisar a utilização, nesta proposta, dos elementos
básicos da comunicação visual. Na nossa composição do “contorno quadrado”
podemos observar que não é possível ver ou sentir um ponto, pois trata-se de
uma “posição sem área”. No entanto, verifica-se que a linha está presente e
pode ser entendida como um número de pontos adjacentes uns aos outros. Esta
também é não é estática, e tem um propósito e uma direção.
No que diz respeito à forma, as
formas básicas utilizadas, (como é o caso das janelas do edifício, a porta de
entrada e o próprio prédio em si) são simples, fundamentais e que podem ser
facilmente descritas e construídas. Relativamente ao tom, é de realçar que
vemos graças à presença ou ausência relativa de luz. A luz envolve as coisas e
incide sobre objetos que têm, eles próprios, claridade ou obscuridade relativa.
Neste caso em concreto, reparamos que os vários azulejos que constituem o
padrão de fundo do edifício apresentam vários tons e apresentam eles próprios
uma claridade. A textura é, de facto,
uma estrutura que pode ser vista e/ou sentida. Na composição do “contorno quadrado”
e do “contorno do círculo”, é percetível o modo como a textura do fundo não
apresenta qualidades táteis, mas apenas óticas. Ainda assim, tentamos registar,
através de fotografia, o máximo de azulejos possíveis com o objetivo de
capturar diferentes modelos, e que se aproximasse realmente do estilo de uma
casa típica portuguesa.
Atentando no elemento básico da
comunicação visual, a direção, é exequível afirmar que a direção de um
movimento pode ser definida pela linha que leva do ponto inicial do movimento
ao seu ponto final presumido. Consegue-se comprovar esta última afirmação com a
direção que observamos nas escadas que percorre as duas janelas do meio, ou
seja, esta indicação tem uma forte interpretação e é um instrumento fundamental
para a criação de uma mensagem visual que, neste caso, pretende mostrar uma
sensação de movimento no prédio. Por último, a escala pode ser estabelecida não
só através do tamanho relativo das indicações visuais, mas também através das
relações com o campo ou com o ambiente. No estabelecimento da escala, a
condição relevante é a medida do próprio homem. Na composição, podemos conferir
que estamos perante uma escala entre as janelas e o próprio edifício, assim
como o homem e o cão que se encontram no exterior.
Por outro lado,
é possível verificar que na composição estamos perante várias técnicas de
comunicação utilizadas com o propósito de formar um conjunto. “As técnicas
visuais oferecem ao designer uma grande variedade de meios para a expressão
visual do conteúdo.” (DONDIS, A. D. / La sintaxis de la imagem, Introducción al
alfabeto visual / Ed. GG Diseño, Barcelona). No nosso ponto de vista, existe
uma espécie de equilíbrio dado pela forma como se separam as partes que
constituem a mensagem, equilíbrio esse transparecido também pela utilização de
formas mais geométricas, como é visível no caso das várias janelas e das
personagens que se encontram nelas, assim como no próprio edifício. Consideramos ainda que subsista uma simetria
clara observável também nas janelas, visto que para cada unidade central, esta
é rigorosamente repetida do outro lado. Acreditamos que existe regularidade,
complexidade e uma grande riqueza visual (profusão), muita ornamentação
conferida pelo misto de elementos e a forma como estão desenhados e a irreverência
que com que se manifestam. Na composição
do “contorno quadrado”, a técnica da unidade resulta de uma harmonia dos vários
elementos numa totalidade que se percebe visualmente. A conjugação dos vários elementos concilia-se
de um modo tão perfeito que passa a ideia de ser uma coisa única. Por exemplo,
o uso das várias janelas, das personagens (casa de namorados e gato) e dos
diversos objetos típicos de uma casa portuguesa passam uma noção, ao
observador, de harmonia em conjunto com o edifício construindo uma mensagem
visual de equilíbrio entre estes elementos todos.
A presença da técnica do exagero
(conceito idêntico à profusão), tem como objetivo principal ampliar a
expressividade da mensagem visual que se quer transpor, como é evidente no uso dos
múltiplos azulejos. No entanto, como não pretendíamos que a nossa mensagem
visual fugisse a toda obviedade e firmeza do propósito, acabamos por
servirmo-nos da técnica ousadia para que tudo fosse óbvio e para que
obtivéssemos a máximo visibilidade no nosso trabalho. Além disso, tal como foi
referido anteriormente, através do equilíbrio, a representação da maioria dos
elementos apresenta-se estática e um efeito de repouso e tranquilidade (uso da
técnica da passividade).
Em contrapartida, como não era o nosso
propósito realçar alguma coisa contra um fundo em que prevalece a uniformidade,
a neutralidade será a técnica que melhor espelha as duas composições finais. Ao
longo das diversas janelas, é nos revelado o que existe além do vidro e, por
isso, é através da transparência que estes detalhes visuais nos mostram algo
que se situa dentro de cada “casa”.
Porém, na porta domina a
opacidade, pois oculta-se o que se encontra por trás dela. Pensamos, também,
desde o início da concretização desta proposta que pretendíamos ser o mais
realistas possível, ou seja, reproduzir o real que a letra da música nos
oferece, e verificamos que era partir do plano que iriamos eliminar qualquer
aparência de dimensão e necessitávamos de descartar qualquer perspetiva na
nossa composição.
As janelas com diferentes pessoas
e objetos exprimem a interação dos estímulos visuais (justaposição), e não
pretendem funcionar como um tema isolado e independente. Nas composições finais, não existe nenhuma
apresentação acidental dos elementos nem da informação visual, logo, tudo se
estabelece numa ordem lógica (sequencialidade). Por fim, o efeito final é fácil
de compreensão e está presente uma clareza do estado físico (agudeza).
Pelo exposto,
podemos concluir que, de facto, uma imagem pode ser um conjunto de elementos
básicos de comunicação visual e vale muito mais do que mil palavras. Conhecer
essas mesmas imagens que nos rodeiam no nosso dia a dia mostra que podemos
alargar a possibilidade de contacto com a realidade. “Conhecer comunicação visual
é como aprender uma língua, língua feita só de imagens, mas imagens que têm o
mesmo significado para as pessoas de todas as nações, portanto de todas as
línguas.” (MUNARI, Bruno / Design e Comunicacao Visual / Ed. 70, Lisboa, 1991).